Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver o Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer.
Porque sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Fernando Pessoa
Este trabalho se propõe a tratar de aspectos que consideramos fundamentais para ampliarmos nosso olhar para o aluno do Ensino Médio. Os dados abordados foram coletados através de textos produzidos por 98 alunos ingressantes nesta etapa escolar de uma escola pública de periferia em 2004. A produção destes textos fez parte de um projeto[i] maior desenvolvido na escola desde 2003, que consistia em valorizar o aluno enquanto sujeito de sua aprendizagem. Faremos, inicialmente, algumas considerações sobre a função social da escola, o Ensino Médio e a adolescência, para, então, adentrarmos à amostragem, considerações e análise dos dados coletados.
Várias instituições são responsáveis pela formação do jovem, a família, as comunidades, os meios de comunicação e a escola, e esta é, sem dúvida, o principal espaço para organizar, sistematizar, transmitir e proporcionar a construção do conhecimento. É através do conhecimento, do domínio das ciências e das tecnologias que o homem adquire meios de transformar o meio natural e a sociedade em que vive. Esse caráter transformador da escola é determinado pelo grau com que instrumentaliza seus alunos no campo da ciência, da técnica, da crítica e da criatividade. Ao estimular e desenvolver nos educandos as capacidades intelectuais, as atitudes e o comportamento crítico em relação à sociedade, na qual estão inseridos, a escola colabora de forma determinante com a transformação social. Mas o que qualquer pessoa ligada à escola, seja professor, aluno ou comunidade percebe com clareza é o que toda a sociedade já se habituou a chamar de “crise da educação”. Todos a reconhecemos, embora não se saiba exatamente qual sua extensão e nem quando começou, mas ela se torna evidente quando concretamente uma enorme parcela de crianças ingressantes na escola não consegue concluir satisfatoriamente os oito anos mínimos e obrigatórios. Esse é, certamente, um dos maiores problemas enfrentados pela escola brasileira na atualidade.
Por conta disso, vários esforços foram e estão sendo articulados numa tentativa de redirecionar a educação brasileira. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394/97, ao estabelecer como sendo dever do Estado a progressiva extensão da obrigatoriedade do Ensino Médio, pretende corrigir uma das razões que provocam a distorção idade/série e a elevada exclusão dos jovens e adolescentes desta etapa escolar.
O Plano Nacional de Educação estabeleceu metas para a educação no Brasil com duração de dez anos que garantam, entre muitos outros avanços, a elevação global do nível de escolaridade da população, a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, a redução das desigualdades sociais, e uma das mais importantes metas do Plano Nacional de Educação, no que tange o Ensino Médio, é a garantia do acesso a todos aqueles que concluam o Ensino Fundamental em idade regular no prazo de três anos, a partir do ano de sua promulgação.
Com o aumento da demanda, o Ensino Médio vem gradativamente passando por algumas mudanças, engendradas, em grande parte pelas políticas pedagógicas, por documentos do Ministério de Educação e as Matrizes Curriculares. É cada vez mais forte a idéia de que esta etapa escolar deva ter uma estreita relação entre o Ensino Fundamental e o Superior e não se reduzir a uma série de conteúdos que visem à aprovação em provas vestibulares. Ou seja, o aluno deve, neste período, ser levado a perceber as articulações entre ciência, diversidade cultural e trabalho, como também desenvolver atitudes e valores éticos, ter o convívio social estimulado e ser conscientizado a rejeitar qualquer tipo de preconceito. E, ainda, desenvolver o educando, assegurando-lhe a preparação para o trabalho e a cidadania; desenvolver, ainda, um currículo que destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado das ciências, das letras e das artes, o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura, e do domínio da língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (Brasil, 1999), pautados no enorme volume de informações produzidas em decorrência das novas tecnologias, e que são constantemente superados, gerando rápidas transformações sociais, indicam novos rumos para formação dos cidadãos e não meramente o acúmulo de conhecimento. Propõem que, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica, deve orientar “o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização” (PCNs).
Aqueles que de alguma forma estão ligados à escolas de Ensino Médio verificam que a realidade apresentada está muito distante do que propõem os Parâmetros. Essa etapa escolar encontra-se, atualmente, sem identidade e os professores carentes de formação mais adequada a essa etapa. Preparar os educandos, para o mundo do trabalho, para o acesso ao ensino superior, para o exercício da cidadania, tudo isso, através de um processo educativo centrado no sujeito, abrangendo todas as dimensões da vida, visando desenvolver plenamente as potencialidades do educando, é um discurso do qual, em teoria, não podemos discordar, mas o que percebemos na prática é a impossibilidade de concretizar esses propósitos, principalmente, porque a escola e o professor não estavam preparados para o aumento da demanda desse público específico do Ensino Médio: adolescentes e jovens.
Percebe-se um descompasso entre o que a escola oferece ao adolescente do Ensino Médio, àquilo que se pretende que ela deva oferecer e ao que o aluno espera que ela ofereça. Percebe-se inclusive um “mal-estar” com relação ao trabalho dos professores. A crise da escola evidencia-se de tal maneira que os profissionais da educação são acometidos de uma série de conflitos que perpassam pela falta de credibilidade profissional que, por sua vez, é produto da falta de credibilidade da escola. Se a imagem da escola como instituição está ameaçada, a idéia de cidadania também está, pois a escola ainda é o meio de o cidadão ter de fato acesso aos seus direitos com vistas não somente ao direito de voto, mas também a uma vida com dignidade.
Quando se investiga o insucesso escolar, principalmente no Ensino Médio, as razões que constantemente surgem é a falta de interesse do aluno, não têm perspectivas, não querem estudar etc., ou seja, esse insucesso é produto de outras fontes que não a escola, o professor ou a ação pedagógica.
Para Aquino (1998:182):
(...) ao eleger o aluno-problema como um empecilho ou obstáculo para o trabalho pedagógico, a categoria docente corre abertamente o risco de cometer um sério equívoco ético, que é o seguinte: não se pode atribuir à clientela escolar a responsabilidade pelas dificuldades e contratempos de nosso trabalho, nossos ‘acidentes de percurso’. Seria o mesmo que o médico supor que o grande obstáculo da medicina atual são as novas doenças, ou o advogado admitir que as pessoas que a ele recorrem apresentam-se como um empecilho para o exercício ‘puro’ de sua profissão.
Quem é esse aluno que chega ao ensino médio? O que quer? Quais são seus projetos? Que vivências ele já possui? Quais são seus anseios e dúvidas? A escola e o professor esperam um aluno ideal e desconsideram ou rotulam o aluno real com o qual se deparam. Ignoram-se as suas múltiplas experiências de vida fora do espaço escolar. A expectativa pelo aluno ideal torna-se mais problemática se desconsiderarmos a diversidade do público atual do ensino médio. O que nos parece claro é que a escola, os professores e a sociedade em geral olham para a conduta do adolescente sempre de forma reducionista, simplista e como problemática. O aluno adolescente, ou o “aborrecente” é apontado sempre como um problema, criam-se estereótipos e ao mesmo tempo em que lhe são impostas novas regras do mundo adulto lhe é negada participação efetiva nesse espaço, principalmente, no que diz respeito ao direito à expressão. Esse espaço de tempo, em que as características infantis são abandonadas, mas ainda não se assumiram as obrigações e responsabilidades da vida adulta, torna-se cheio de contradições.
Sobre essas contradições, Melman (1999) afirma que a forma pela qual a adolescência é tratada revela uma discordância que nossa cultura mantém entre os estatutos biológico, subjetivo e social. O adolescente, por um lado, é tomado por uma exigência interna e, de outro, por uma norma social que o subestima e o declara ainda incapaz.
Com o alongamento da permanência na escola, propiciado pelo aumento progressivo do acesso à escola de ensino médio, há a necessidade de novas propostas de trabalho para esse público específico, prioritariamente, adolescentes e jovens.
Para Calligaris (2000: 8-9), os adolescentes:
(...) amam, estudam, brigam, trabalham. Batalham com seus corpos, que se esticam e se transformam. Lidam com as dificuldades de crescer no quadro complicado das famílias modernas (...) eles precisam lutar com a adolescência, que é uma criatura um pouco monstruosa, sustentada pela imaginação de todos, adolescentes e pais. (...) A adolescência é o prisma pelo qual os adolescentes se contemplam. Ela é uma das formações culturais mais poderosas de nossa época.
A adolescência não é um fenômeno universal. A antropologia já constatou que os povos primitivos não passam por esse estágio, pois o mundo adulto encontra-se nitidamente dividido pelo “ritos de passagem”. Esses rituais introduzem o indivíduo no mundo adulto com valores e regras bem definidas, não havendo ambigüidades a respeito dos direitos e deveres que estado de “adulto” lhe acarreta.
Já, nas sociedades modernas, há a segregação do jovem através de uma espécie de segmentação no período de transição de uma faixa etária para outra. A escola, na modernidade, passou a ter papel fundamental nesse período de espera enquanto espaço separado, apropriado e de grande importância para a preparação para a vida adulta. Mas como já observamos anteriormente, a escola vê esse adolescente de modo reducionista e estereotipado, não proporcionando momentos de vivências adequadas para que os educandos se desenvolvam enquanto sujeitos dessa preparação para adentrar na vida adulta.
Faz-se necessário, então, que a escola perceba, como nos diz Dayrell (1996: 140), que:
(...) os alunos chegam à escola marcados pela diversidade, reflexos dos desenvolvimentos cognitivo, afetivo e social, evidentemente desiguais, em virtude da qualidade de suas experiências e relações sociais prévias e paralelas à escola. O tratamento uniforme dado pela escola só vem consagrar a desigualdade e as injustiças das origens sociais dos alunos.
É preciso, assim, que a escola propicie espaços para que seus alunos tenham voz, para que se expressem, opinem, sugiram, analisem, critiquem, enfim, participem, desenvolvendo assim competências fundamentais para o mundo do trabalho, característica primeira do mundo adulto. Compreender esse aluno que chega à escola é apreendê-lo como sujeito sócio-cultural. Para isso, é preciso superar a visão homogeneizante e estereotipada da noção de aluno. Ou seja:
Trata-se de compreendê-lo na sua diferença, enquanto indivíduo que possui uma historicidade, com visões de mundo, escala de valores, sentimentos, emoções, desejos, projetos, com lógicas de comportamentos e hábitos que lhe são próprios. (Dayrell, 1996:140)
Ao participarmos por alguns minutos de qualquer reunião de conselho de classe e série, veremos que essa necessária mudança de visão está bem distante da realidade, pois nos deparamos com vários rótulos e estereótipos dados aos alunos: o desinteressado, o indisciplinado, o desrespeitoso, o que não tem pré-requisitos, o que não tem limites, o agressivo, o tímido, o bagunceiro, ou ainda uma expressão que de tão ampla é vazia de significado: “esse aluno tem problemas”. Esses esteriótipos acabam por cristalizar modelos de comportamento com os quais os alunos passam a se identificar.
De acordo com Spósito (2001), o estereótipo atribui a priori características ao sujeito, neste caso, o adolescente, e nega o direito à fala. Ou seja, nos negamos a escutar o que ele teria a dizer sobre si mesmo e lhe são impostas definições externas que toma como suas, que, ainda segundo a mesma autora, essas definições tornam-se representações incorporadas pelo jovem, podendo gerar estigmas que deformam a identidade. Desta forma, torna-se claro que o olhar que lançamos ao adolescente tem grande importância na constituição de sua identidade.
A responsabilidade de escola com relação à formação do jovem é enorme e deve não reproduzir o olhar que a sociedade em geral tem do adolescente e, sim, caminhar no sentido de reconhecer esse adolescente como um ser único, respeitando democraticamente seu direito a ser ouvido e estimulado à livre expressão responsável, crítica e consciente.
Para Aquino (2003:61):
(...) o modo de vida democrático não é uma disposição espontânea nem inerente às pessoas. Ele precisa ser incessantemente cultivado, isto é, posto que se aprende, tem de ser ensinado sem cessar. Por essa razão, não poderá haver democracias sustentáveis se não contarmos com escolas orientadas para a defesa intransigente da liberdade, da dignidade, da justiça, do respeito mútuo etc.
Tendo por base que a escola é um espaço polissêmico, é necessário articular a experiência que a escola oferece de acordo com o seu projeto político-pedagógico, com o projeto dos alunos. Não seria a escola o espaço privilegiado para desenvolver a formação humana de forma ampla, ampliando o universo dos alunos?
E, como nos diz Velho (1987, apud Dayrell, 1996: 145):
(...) quanto mais exposto estiver o ator a experiências diversificadas, quanto mais tiver de dar conta de ethos e visões de mundo contrastantes, quanto menos fechada for a sua rede de relações ao nível do seu cotidiano, mais marcada será a sua percepção de individualidade singular. Por sua vez, a essa consciência da individualidade, fabricada dentro de uma experiência cultural específica, corresponderá uma maior elaboração de um projeto.
Pensando dessa forma, iniciamos, em 2003, um projeto que tinha como objetivo desenvolver a livre expressão, a análise, a crítica, e a solidariedade através da empatia e do respeito ao outro. Um dos momentos desse projeto caracterizou-se pela proposta de uma produção textual que tinha como tema o papel do professor na formação do jovem. A princípio, o que se percebeu foi a enorme dificuldade de elaborar, selecionar e organizar a idéias, ou seja, a maioria não sabia exatamente qual era o papel do professor na sua própria formação. O que pode parecer estranho, afinal a maioria está na escola pelo menos há nove anos e não conseguia definir qual é o papel do professor. Questionados sobre isso, os alunos se surpreenderam por nunca terem pensado ou percebido que os professores têm um papel em sua formação e passaram a refletir sobre ele.
Nos textos produzidos, que passaram a ser tratados, na análise de dados como questionários abertos, o que se percebe é que apesar de a maioria nunca ter refletido sobre o tema, quando o fez, conseguiu levantar aspectos sobre o papel do professor extremamente pertinentes. Ou seja, os alunos quando estimulados a participar, a refletir e a expressar-se mostram-se competentes e demonstram ser muito diferentes dos esteriótipos e rótulos que normalmente lhe são impostos.
Segundo Rios (2003:93): “Em toda a ação docente, encontram-se uma dimensão técnica, uma dimensão política, uma dimensão estética e uma dimensão ética”. Em seus textos, os educandos abordaram pontos que englobam justamente essas quatro dimensões. Sendo assim, os dados coletados foram organizados no que tange à dimensão da competência técnica, dimensão ético-política e dimensão estética. Além desses dados elencados com relação ao papel do professor enquanto formador, pode-se constatar, também, que muitos alunos conseguiram perceber as dificuldades e deficiências que alguns professores têm em desempenhar esse papel e, ainda, indicaram o que seria necessário para que a sua formação, enquanto alunos, fosse mais eficaz.
Na dimensão da competência técnica, o que se espera de um professor é o domínio dos conteúdos de sua disciplina e que consiga transmiti-los, ou seja, domínio do conteúdo específico e de métodos pedagógicos.
De acordo com Cunha (1982, apud Rios, 2003:94), o termo “técnica” é usado para indicar o “conjunto dos processos de uma arte” ou a “maneira ou habilidade especial de executar ou fazer algo”. Temos, então, a competência técnica ligada à capacidade de lidar com os conteúdos e conceitos e das atitudes. Essa dimensão foi claramente citada na maioria dos textos:
O docente tem o dever de conhecer a matéria que ele leciona e deve expressar esse conhecimento com clareza...
O papel do professor é transmitir conhecimento, é tirar qualquer tipo de dúvida que apareça sobre sua matéria...
O papel mais importante do professor é transmitir conhecimento...
(...) o professor deve preparar para o vestibular, transmitindo todo o conhecimento possível e, também, preparar para o mercado de trabalho...
Ensinar de forma que o aluno entenda faz parte do papel do professor; deve também tentar compreender a dificuldade do aluno e tentar tirar suas dúvidas...
(...) os professores devem se empenhar em ensinar de uma forma interativa e dinâmica, fazendo com que os alunos aprendam de uma forma divertida e interessante...
O docente deve passar o máximo dos conhecimentos para que o aluno possa se tornar uma pessoa culta...e devem expressar esses conhecimentos com correção e clareza...
(...) deve ensinar seu conteúdo com clareza, preparar para o vestibular e nos sentirmos seguros para entrar no mercado de trabalho...
A competência ético-política está presente naquele professor que, além de ensinar, sente a responsabilidade de formar integralmente o seu aluno, parafraseando Freire (1997), ter compromisso ético político é aquele que ensina a ler o mundo e não apenas se restringe a ensinar a leitura das palavras.
Rios(2003:106) reivindica, para a profissão docente, a dimensão da competência ética, esclarecendo que competência guarda o conceito de algo de boa qualidade – algo que se exercita como deve ser, na direção não apenas do bem (...), mas do bem comum. Daí, a perspectiva ética.
Inseparável da ética está a competência política que tem como finalidade a vida justa e feliz, ou seja, a vida propriamente humana digna de seres livres (Chauí 1994:384). Iniciar os alunos no que diz respeito a sua participação na sociedade, cientes de seus direitos e deveres, é parte desta competência. Nos textos analisados, essa competência é a citada como mais importante na formação do jovem. Vejamos alguns trechos:
O papel do professor é um marco na vida de qualquer pessoa. É ele quem ensina, auxilia nas dificuldades e prepara-nos para o mundo.
(...) é necessário que exista respeito para que o docente exerça sua função de ensinar, mas não apenas uma simples lição de determinada matéria, mas sim um aprendizado de vida que o jovem irá levar com ele pela vida toda.
Ele deve nos ensinar muita coisa e não só sobre a matéria, mas também coisas sobre a vida que nos ajudará muito no futuro, pois é através dele que seremos cidadãos bem informados sobre nossos direitos e deveres.
O papel do professor é ser ético com seus alunos, deve ensinar com prazer e não fazer seus alunos de máquinas copiadoras...
É dever do professor ensinar a se comportar no mundo, deve mostrar ao aluno o valor daquilo que está transmitindo e deve mostrar qual é a importância do jovem no mundo de hoje...
O professor tem uma grande importância na educação dos jovens, pois ele passa um terço de nossa vida conosco...é necessário que ele seja o guia do jovem... um amigo e não só um simples professor... e também deve servir de inspiração para o jovem...
(...) além disso, é ele que te ajuda a ter respeito ao próximo, a ser solidário... o docente é uma parte da sua viajamais será esquecida, pois ele sempre tem algo novo e surpreendente para te ensinar, é ele que vai te mostrar que o mundo pode ter mais brilho e te transformar numa pessoa preparada para o futuro...
O professor não é só importante para o ensino de Português, Matemática, mas também para orientá-lo no dia-a-dia, é ele um dos responsáveis junto com a família, pelo desenvolvimento do intelecto e do futuro do jovem.
(...) em suas aulas deve exigir de nós sempre o melhor, fazendo-nos ter responsabilidade com datas de entregas de trabalho, e mostrando sempre que isso é para o nosso bem, deixando sempre claro que assim vamos ser pessoas mais preparadas para o mercado de trabalho, que hoje em dia devido a atual crise, só seleciona os melhores, mais interessados e esforçados...
(...) ele deve ensinar que não é só nossa opinião que vale, que temos que aprender a ouvir os outros e juntos chegar a uma conclusão em comum e, principalmente, respeitarmos as diferenças, pois cada um vem de uma família, cada um tem um grau de entendimento diferente, mas que todos têm o direito de expressar suas idéias...
(...) outro fator importantíssimo na educação de um jovem é o professor servir de espelho para seus alunos, ou seja, se o educador se mostra uma pessoa bem educada, com princípios, o jovem receberá isso como uma lição que será exercida diariamente...
(...) o dever do professor é repreender, orientar e dar conselhos para tornar seus alunos cidadãos de caráter...
(...) é dever do professor agir com justiça, não discriminar os alunos...expondo os deveres e respeitando os direitos da cada aluno e avaliar segundo seus esforços...
(...) devem saber formar opinião... ter uma postura correta, pois não é possível ter um discurso e sua prática ser outra...deve levar o aluno a construção da cidadania, ou seja ajudar o aluno a perceber que sua opinião é importante e que reconheça sua importância na sociedade sabendo dos seus direitos...
(...) deve valorizar o aluno na sua capacidade... levantar sua auto-estima para que ele se sinta forte para lutar por seus interesses... ensinar que para ser um cidadão não precisa passar por cima dos outros e, sim, ter respeito por todos que o cercam sendo uma pessoa digna de caráter...
A origem etimológica da palavra estética vem do grego aisthesis com o significado de “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante”, portanto, tomando esses significados não aprofundaremos, aqui, uma reflexão sobre a arte ou o belo, mas, sim, relacionar os significados originais da palavra à necessidade de sensibilidade no ato educativo.
Rios (2003), citando Ostrower (1986:12-13), refere-se à sensibilidade como algo que vai além do sensorial e que diz respeito a uma ordenação das sensações, uma apreensão consciente da realidade, ligada estreitamente à intelectualidade. Segundo ela (id.: 96): “(...) a sensibilidade guia o indivíduo nas considerações do que para ele seria importante ou necessário para alcançar certas metas de vida.(...)”. A sensibilidade se converte em criatividade ao ligar-se estreitamente a uma atividade social significativa para o indivíduo. Sendo assim, a estética é uma dimensão da existência, do agir humano. É o que podemos perceber das falas de alguns dos nossos alunos:
(...) o professor deve agir com carinho, demonstrando interesse em que todos alcancem o objetivo final que é ser aprovado, ele conseguirá a confiança e o respeito de todos (...), propor trabalhos e atividades que exijam a aproximação do aluno e do professor...
(...) deve haver entre o professor e o aluno um vínculo de amizade, confiança e respeito, para que haja um melhor rendimento e para que todos os objetivos sejam alcançados...
(...) deve ser um conselheiro sincero, é o nosso amigo que muitas vezes nos dá um conselho, um apoio quando precisamos...
O professor deve demonstrar interesse pelo aluno e ter paciência quando explicar.
O professor deve ter paciência, interesse no aluno e vontade de ajudar os alunos nas suas dificuldades...
Ele deve ter um bom relacionamento com o aluno, deve ter diálogo, amizade entre eles e acima de tudo respeito, o professor não é só um amigo ele é muito mais que isso, ele vai estar com o aluno boa parte da vida, mostrando coisas que ele nem sonhava que existiam...
Os professores passam a maior parte do dia com os jovens por isso eles devem passar alegria para isso refletir no aluno.
Outro item muito importante na relação entre o professor e o aluno é o companheirismo, pois a partir do momento que os dois sejam companheiros, facilitarão os dois lados, o ensino do professor e o aprendizado do aluno...
Percebe-se, na análise dos textos produzidos pelos alunos, que suas percepções sobre o papel do professor são aprofundadas no sentido de demonstrarem claramente que uma dimensão apenas não é suficiente, mas que uma complementa a outra.
Para Rios (2003:108):
a dimensão ética é a dimensão fundante da competência porque a técnica, a estética e a política ganharão seu significado pleno quando, além de apoiarem em fundamentos próprios de sua natureza, se guiarem por princípios éticos. Assim vale reafirmar que, para um professor competente, não basta dominar bem os conceitos de sua área – é preciso pensar criticamente no valor efetivo desses conceitos para a inserção criativa dos sujeitos na sociedade. Não basta ser criativo – é preciso exercer sua criatividade na construção do bem-estar coletivo. Não basta ser comprometido politicamente – é preciso verificar o alcance desse compromisso, verificar se ele efetivamente dirige a ação no sentido de uma vida digna e solidária.
E, neste sentido, afirma um de nossos alunos:
(...) existem professores que só se preocupam em ensinar sua matéria deixando de lado coisas muito importantes: a virtude, que é ensinar como conviver bem com seus colegas e na sua comunidade, a ser um cidadão de verdade.
Além de terem elencado, em seus textos, as quatro dimensões da competência, alguns fizeram referências às dificuldades e deficiências apresentadas no ambiente da sala de aula, abordando aspectos como a falta de conhecimento teórico sobre matéria lecionada, o clima de desordem, a falta de didática, a falta de comprometimento. Alguns conseguiram identificar o comportamento de professores que, provavelmente, se mostram na fase de desinvestimento da carreira. Vejamos alguns trechos para melhor ilustrar:
A desordem dentro da sala de aula atrapalha o desenvolvimento dos alunos, pois se a bagunça não é contida, logo ela se torna gradual e, mais tarde, foge do controle do professor, que, muitas vezes, não dá importância, mostra um certo desinteresse em melhorar, em inverter a situação e, com isso, acaba permitindo os excessos de indisciplina, pois sua autoridade não é mais respeitada.
Alguns professores tentam dar aula. Quando eles percebem que não vão conseguir, alguns deles desistem, deixando apenas um conteúdo incompreendido na lousa e quem ficam prejudicados são os alunos que estão interessados em aprender.
Existem professores que conseguiram ter conhecimento suficiente para exercer sua profissão que é de muita responsabilidade, mas não conseguem ensinar os alunos.
Há professores que não conseguem preparar suas aulas e chegam na escola com algumas coisas improvisadas e não conseguem passar o conhecimento suficiente para os alunos.
O professor tem um papel fundamental na vida do jovem, mas alguns entram nessa profissão não sei por que, pois não sabem explicar direito, só sabem gritar e brigar com os alunos.
Já é da natureza do aluno não gostar da escola e quando percebem que o professor está com falta de interesse, não estudam, não fazem nada, se tornando alunos rebeldes...
O professor precisa compreender que os alunos não têm o mesmo grau de conhecimento que ele e, por isso, não deve se irritar, mas ensinar quantas vezes for necessário para que o aluno aprenda o máximo.
Como toda a profissão, existem os que fazem seu dever por amor e vocação e os que fazem só pelo dinheiro e a diferença se vê em sala de aula, há professores que só se preocupam em “passar” a matéria e acham que fazendo isso sua missão está cumprida”.
Parece-nos claro que o aluno está muito além daquilo que normalmente o rotulam. A ampliação do olhar sobre ele, percebendo-o de maneira mais complexa, no sentido de conhecer seus saberes, vivências, suas idéias, suas críticas, suas propostas, poderia ser um caminho no sentido de dar contornos possíveis para uma formação integral desse jovem. Ao ouvir o aluno, o que se recebe de volta é uma profusão de opiniões, observações, propostas etc., que são surpreendentes e que em nada sugerem a imagem de superficialidade que normalmente lhe é impingida. A escola precisa abrir-se para o novo, e o adolescente precisa de um espaço em que possa ser ouvido, reconhecido. Ao propor que o aluno precisa ser ouvido, não estamos sugerindo que ele passe a ditar suas regras e sugerir propostas que devam ser aceitas prontamente pela escola, obviamente que não, o que se propõe é oportunizar o diálogo, construir uma relação de respeito mútuo. Nos dados coletados, os alunos sinalizam claramente que precisam de um adulto, no caso, o professor como portador de valores, de regras e que lhe sirva de exemplo:
(...) outro fator importantíssimo na educação de um jovem é o professor servir de espelho para seus alunos, ou seja, se o educador se mostra uma pessoa bem educada, com princípios, o jovem receberá isso como uma lição que será exercida diariamente...
A vontade dos alunos é ter voz, é ter oportunidade de propor, de criticar, de participar de um processo no qual são os principais interessados, assim, como transformar nosso aluno em sujeito de seu próprio conhecimento sem dar oportunidade para que se expresse? Nosso objetivo, no presente trabalho, foi o de discutir a importância de se ouvir o aluno para podermos ampliar nosso olhar sobre ele e mostrar que durante o desenvolvimento do projeto, no qual os textos foram produzidos, isso foi possível. Ou seja, os alunos foram ouvidos, reconhecidos como sujeitos capazes de observar, avaliar, propor mudanças, questionar, enfim, participar de um processo dialético.
Estamos cientes de que não exploramos a totalidade dos dados recolhidos, muito mais poderíamos aprofundar tanto no que diz respeito às informações presentes nos textos, como em relação a uma mais completa fundamentação teórica.
Acreditamos que a relevância dos aspectos abordados pelos alunos e a dimensão com que participaram das atividades nos dão indícios sobre a necessidade e a importância de se ouvir o aluno e olhá-lo com um olhar ativo, sem pressa, percebendo as mudanças, as semelhanças e as diferenças, enfim, olhá-lo com “olhos de ver”.
Referências Bibliográficas
AQUINO, Julio Groppa de. Indisciplina: o contraponto das escolas democráticas. São Paulo: Editora Moderna, 2003.
___________. A indisciplina e a escola atual. Revista da Faculdade de Educação da USP, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 181-204, 1997.
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CALLIGARIS, Contardo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1994.
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. In: Dayrell, J. (org.) Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996, p.137-161.
RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2003.
MELMAN, Charles. Os adolescentes estão sempre confrontados ao Minotauro. In: Jerusalinsky, A. et al (orgs). Adolescência entre o Passado e o Futuro. 2ªed. Porto Alegre: Associação Psicanalítica de Porto Alegre/Artes e ofícios, 1999, p.29-40.
SPÓSITO, Marilia P. Crise, Identidade e Escola. In: Dayrell, J.(org). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001, p.96-104.
[i] O projeto Vivências Comunicativas integrava as aulas de Língua Portuguesa da E.E. Profª Gracinda Maria Ferreira.